Conflito organizacional: como resolver problemas dentro de uma equipe

"O talento ganha jogos, mas o trabalho em equipe e a inteligência ganham campeonatos." Esta importante frase foi dita por Michael Jordan, que sabia perfeitamente a importância de um time unido para alcançar os objetivos traçados. O mesmo pode ser dito dentro das empresas, o que explica o foco em evitar conflito organizacional: ter um bom ambiente de trabalho é o mais importante para 40% dos trabalhadores, segundo o estudo Índice de Medição de Empregados (IMEA), da Alares. 

No entanto, trabalhar com outras pessoas sem que surjam problemas é praticamente impossível, ainda mais considerando que o Brasil é o 10º país com semana de trabalho mais longa, com média de 39,5 horas. Sendo assim, a resolução de disputas é crucial para criar um bom ambiente de trabalho, aumentando a produtividade e o desempenho da empresa.

Segundo dados levantados pelo Great Place to Work, companhias que fazem uma boa gestão de clima organizacional possuem rotatividade três vezes inferior ao restante do mercado, 7% a mais de lucro e retorno financeiro três vezes mais atraente para os acionistas. Logo, todos saem beneficiados quando registram-se menos problemas e conflito organizacional.

O que é conflito organizacional e por que ele surge?

Um conflito organizacional é qualquer tipo de problema que surge dentro de um ambiente profissional e está estritamente relacionado a questões trabalhistas. Por isso, é importante não confundir um conflito real com reações pessoais ou temperamentais. 

Considerando que esse tipo de questão pode surgir a qualquer momento, as empresas valorizam profissionais que saibam contornar problemas do dia a dia e que estejam focados em trabalhar em equipe de forma mais eficiente, encontrando soluções rápidas para as adversidades que surgirem.

Porém, é importante dar um passo atrás e entender alguns dos motivos mais comuns que levam ao conflito organizacional: 

• Falta de recursos, tempo ou material: os recursos da empresa são limitados e devem ser distribuídos entre os funcionários com base em critérios puramente estratégicos. No entanto, um colaborador pode se sentir menosprezado se não tiver os mesmos recursos que seus colegas.
• Pressão e estresse no trabalho: dados da Previdência Social apontam que mais de 75 mil brasileiros se afastaram do trabalho por conta da depressão em 2021. Além disso, 37,8% das licenças médicas no país são por transtorno mental e de depressão. Isto deve-se a fatores como questões salariais, alto nível de pressão e desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
• Distribuição desigual de tarefas: às vezes há uma sobrecarga de trabalho, levando ao crescimento da síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do desgaste profissional. O Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados, perdendo apenas para o Japão: cerca de 30% dos colaboradores sofrem com a síndrome. Como consequência, eles se sentem desvalorizados e “esgotados”, causando desconforto e conflito organizacional. 
• Diferenças entre os valores dos trabalhadores e da empresa: a contratação de funcionários que não compartilham dos mesmos valores da empresa pode gerar divergências de julgamento e permitir conflitos dentro da organização. Da mesma forma, cada pessoa tem uma percepção da realidade e um estilo próprio de trabalho, o que também pode causar problemas.
• Falta de políticas de resolução de conflito organizacional: o primeiro passo para resolver problemas desse tipo é detectá-los precocemente. No entanto, para isso acontecer, a companhia deve ter políticas pré-estabelecidas que permitam uma rápida detecção e ação. Muitas vezes, elas deixam nas mãos dos colaboradores a resolução – o que pode ser muito difícil no meio de uma disputa.

Como evitar o conflito organizacional

Embora não exista uma fórmula que evite todo tipo de conflito organizacional, existem meios de preveni-lo. Por exemplo:

• Ter uma boa comunicação interna: é muito importante deixar claras as funções e tarefas de cada colaborador, seus prazos e como devem ser realizadas. Além disso, deve-se promover a comunicação interna baseada na educação e no respeito mútuo. Porém, a Pesquisa de Tendências em Comunicação Interna mostrou que isso não é tão fácil quanto parece: ainda que 88% dos CEOs entrevistados afirmem valorizar a comunicação interna, 70% das empresas têm dificuldades em engajar gestores como comunicadores.
• Definir a política da empresa: as chances de um conflito organizacional ocorrer podem aumentar sem um organograma claro sobre quem exerce os cargos, suas responsabilidades e quais objetivos devem ser cumpridos.
• Ter empatia: segundo o Workplace Empathy Monitor 2017, 77% dos funcionários estariam dispostos a trabalhar mais horas em um ambiente de trabalho mais empático, enquanto 60% aceitariam um salário menor em troca de maior empatia. Assim, se os funcionários de uma mesma equipe se colocassem no lugar do outro mais vezes, a maioria dos problemas das companhias poderiam ser evitados. 
• Estabelecer um espaço de diálogo e de negociação: promover espaços de diálogo, aprender a negociar e privilegiar o bem comum sobre o individual são técnicas muito eficazes para resolver o conflito organizacional.

Como solucionar um conflito organizacional

Ao aplicar medidas corretas, os gestores podem ver uma redução no conflito organizacional. Porém, esses problemas podem surgir inesperadamente, o que faz com que seja por muito difícil agir a tempo. Nesse caso, resta apenas encontrar a melhor solução o mais rápido possível. 

Esse processo fica um pouco mais fácil ao seguir as orientações abaixo:

1. Detectar o conflito: o primeiro passo é descobrir e conhecer qual é o problema, por que ele surgiu e em que estado se encontra. Ter ferramentas de prevenção ajudam nessa etapa inicial. 
2. Identificar as pessoas: conhecendo todos os detalhes do conflito, o gestor deve identificar quais pessoas estão envolvidas, seja de forma direta ou indireta. 
3. Mediar de forma imparcial: antes de tentar encontrar uma solução, é preciso ouvir com imparcialidade as diferentes versões das pessoas envolvidas. Para isso, é fundamental que um cargo superior atue como mediador, dando preferência para alguém que não trabalha com as partes. 
4. Negociar: deve-se criar um espaço de negociação em que todos contribuam com suas versões, mas sempre com respeito e promovendo uma visão mais ampla das coisas.
5. Solucionar o problema: aqui, o objetivo é chegar a um consenso em que as partes concordem. A resolução eficaz e rápida do conflito organizacional evita que o problema fique ainda maior, levando a mais desconfianças e frustrações. 
6. Avaliar: Por fim, é importante acompanhar e avaliar o processo para saber se o problema foi totalmente resolvido. Ao mesmo tempo, é importante ver se aquela questão tinha como ser prevenida e como isso poderia ter sido feito, antecipando-se para evitar futuros conflitos.

Exemplos e possível resolução de um conflito organizacional

Exemplos de disputas trabalhistas são abundantes em quase todas as empresas. Aprender a identificá-los e resolvê-los é crucial para garantir o bom funcionamento das organizações. 

Confira a seguir alguns exemplos de conflito organizacional e suas possíveis soluções. 

Exemplo 1: má comunicação

• Problema: A falta de comunicação interna leva a mal-entendidos e a um fluxo de trabalho ineficiente. Consequentemente, os colaboradores ficam confusos, não trabalham em equipe e têm dificuldades no cumprimento de objetivos. 
• Solução: é preciso encorajar a comunicação aberta e estimular o compartilhamento respeitoso de opiniões. Para fazer isso, a empresa precisa implementar canais de comunicação eficazes, agendar reuniões regularmente com todos os colaboradores e estabelecer um sistema de feedback anônimo.

Exemplo 2: Discriminação e assédio

• Problema: algumas pessoas podem se sentir assediadas ou discriminadas dentro de uma equipe de trabalho, seja por motivos puramente profissionais ou por questões pessoais, como etnia, gênero ou orientação sexual. Isso é mais comum do que se pensa: dados do Ministério Público do Trabalho mostram que as denúncias de assédio sexual no trabalho mais que dobraram de 2022 para 2023, subindo de 168 para 340. Já as queixas de assédio moral, quando o trabalhador é submetido a tratamento humilhante ou constrangedor de forma repetitiva, aumentaram 74% neste mesmo período.
• Solução: estabelecer políticas claras contra a discriminação e o assédio, além da abertura de um canal de denúncia seguro e confidencial. Caso a denúncia seja comprovada, a companhia deve tomar medidas disciplinares e fornecer treinamentos obrigatórios nessa área.

Exemplo 3: Distribuição desigual de tarefas

• Problema: as tarefas são distribuídas de forma desigual entre os membros da equipe. Aqueles que carregam mais peso sentem-se sobrecarregados e irritados, pois seus pares não assumem as mesmas responsabilidades que eles. 
• Solução: O líder da equipe deve revisar as cargas de trabalho regularmente e, se necessário, redistribuir as tarefas. Para isso, é preciso levar em conta a experiência, as habilidades, a produtividade ou o tempo disponível de cada colaborador. Além disso, um canal de escuta ativa pode ser aberto para receber feedback dos funcionários.

Exemplo 4: Liderança ineficaz

• Problema: quando falamos de conflito organizacional, não podemos ignorar que muitos ocorrem pela falta de um líder incapaz de gerir sua equipe. Um estudo da American Psychological Association mostrou que 75% dos norte-americanos identificam seus chefes como o fator mais estressante de seu trabalho, enquanto 60% deles trocariam um aumento salarial por um novo chefe. Nesses casos, os conflitos se tornam permanentes e o ambiente fica mais hostil. 
• Solução: os líderes podem receber treinamento em habilidades socioemocionais, como comunicação, inteligência emocional, gestão de equipes, resolução de disputas trabalhistas e tomada de decisões. Eles também devem abrir um canal de comunicação interna para melhorar o relacionamento com sua equipe, contando com o apoio de seus superiores.

A resolução de um conflito organizacional tornou-se uma questão importante para as empresas. As estatísticas não mentem: segundo um levantamento feito pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, funcionários felizes são 12% mais produtivos que os demais. Já a Universidade da Califórnia (EUA) mostrou uma alta de 37% nas vendas e três vezes mais criatividade daqueles funcionários que se encontram satisfeitos em seu ambiente de trabalho. 

A prevenção e mediação, além de uma boa formação, são as armas mais poderosas para evitar um conflito organizacional. Inteligência emocional, liderança, empatia, comunicação, tomada de decisão ou negociação são algumas das soft skills ou habilidades socioemocionais para a resolução de conflitos no ambiente de trabalho, sobretudo na gestão de equipes. 

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